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Rotas de descarbonização

Vivemos em um mundo com enormes desafios, uma crise climática sem precedentes, a desorganização das cadeias globais de suprimentos causada pela pandemia e uma acelerada digitalização. Guerras, conflitos e tensões econômicas complexificam ainda mais este cenário.

Ao redor do planeta, estamos sendo submetidos aos reveses ambientais, numa colheita dramática de erros plantados anos a fio para suportar o atual modelo de desenvolvimento. Descarbonizar a economia não é uma opção. Trata-se de um imperativo à vida, tendo em vista a viabilidade da Terra para as atuais e, principalmente, futuras gerações.

Nessa caminhada de travessia, não precisamos partir do zero. Para trilhar o caminho da bioeconomia, já existem bússolas dos bons exemplos, demonstrando que é viável produzir e preservar.

Recentemente, essa empreitada foi tema de edição dos Seminários Setoriais do BNDES, onde a Ibá e empresas do setor apresentaram ao banco os cases de sucesso nas rotas de descarbonização das atividades das suas indústrias.

Globalmente reconhecido como referência no manejo sustentável e com altos índices de produtividade, o setor de árvores cultivadas atua em uma lógica integradora, sistêmica e circular, da árvore ao pós-uso do produto. O setor planta, colhe e replanta árvores para fins industriais em 9,94 milhões de hectares, expandindo-se atualmente sobre áreas com algum nível de degradação e baixa produtividade.
São 1,8 milhão de árvores plantadas por dia, que removem carbono da atmosfera. Além disso, o setor conserva outros 6,73 milhões de hectares de área nativa, uma extensão maior que o Estado do Rio de Janeiro. Juntas, essas áreas contribuem para que o setor, na média, capture mais carbono da atmosfera do que emite pelos seus processos fabris.

Mas o setor de árvores não se acomoda e está longe de cair na tentação de contar apenas com as remoções de suas áreas de cultivo e preservação. Tem ido além, desenvolvendo diferentes trilhas de descarbonização para seus processos com ciência e inovação.

Prioridades

Na busca de melhorar mais ainda seu desempenho climático, o setor mapeou pontos que podem ser atacados para reduzir emissões e uso de combustível de fontes finitas ou fósseis. No segmento de celulose e papel, por exemplo, a questão energética é central, e está presente nos três principais rotas apresentadas: caldeiras de recuperação, fornos de cal e o sistema logístico.

Entre os promissores caminhos, está a produção de bioenergia a partir do licor preto, um subproduto do cozimento da madeira para produção de celulose. Hoje, esse caminho já suporta 86% do consumo energético das fábricas do setor.

Ainda nessa tendência rumo a processos industriais cada vez mais circulares, além da queima do licor preto para gerar energia, há novos investimentos para que as cinzas dessa combustão deem origem a fertilizantes. É o caso da Klabin, que já conta com uma planta para a produção de potássio, um importante componente de fertilizantes, a partir dessas cinzas.

Para a realização do mesmo processo, a Bracell também está investindo na construção de uma nova unidade que deve entrar em operação no primeiro semestre de 2024. A meta percebida no setor é de fábricas com aterro zero.

Além disso, já temos duas unidades fabris de celulose que chegam com operações livres de combustíveis fósseis, a da Bracell, em Lençóis Paulista (SP), e o Projeto Cerrado, da Suzano, que deve ser inaugurado no próximo ano em Ribas do Rio Pardo (MS).

Outras, como a Ibema, estão atualizando suas fábricas já existentes para descarbonizar ainda mais seus processos produtivos. Em Embu das Artes (SP), a companhia está substituindo três caldeiras hoje alimentadas por gás natural por soluções com biomassa vegetal.

Já a Irani, além de implementar sua caldeira de recuperação movida a bioenergia em Vargem Bonita (SC), também está investindo na geração de energia solar em suas plantas em SC, SP, MG e RS.

O setor também vem apostando na gaseificação da biomassa florestal para produção do gás de síntese, utilizado para gerar energia para os fornos de cal. Alimentados em muitas das unidades por gás natural e outros combustíveis fósseis, os fornos de cal são essenciais ao tratamento de resíduos do processo de fabricação de celulose.

A Klabin, com a Unidade Puma II, em Ortigueira (PR), adotou essa tecnologia. Também é o caso da unidade da Bracell em Lençóis Paulista, e da Suzano, com o Projeto Cerrado em Ribas do Rio Pardo.

Redução de emissões

Na logística, diversas empresas têm projetos para diminuir as emissões, tanto no transporte de madeira, quanto no escoamento de produtos como celulose, papel e placas de madeira.

A CMPC, por exemplo, adotou viagens com caminhões elétricos ou híbridos de tração, promovendo uma redução de 20% no consumo de combustíveis para o transporte de madeira. A iniciativa faz parte do BioCMPC, um amplo projeto de modernização operacional e melhorias ambientais, incluindo a substituição de uma caldeira de carvão mineral por uma movida a licor preto em Guaíba (RS). Com a substituição, a empresa reduzirá suas emissões em 312 mil toneladas de CO2eq por ano.

Seja em suas próprias fábricas, seja nos diversos pontos da cadeia produtiva, o setor vem, de forma efetiva, mostrando caminhos para a corrida pela descarbonização da matriz energética global e redução de pegada.

Este mundo em ebulição oferece desafios, mas, ao menos no enfrentamento de questões relativas à sustentabilidade, o País vem se destacando como um polo de práticas inovadoras e viáveis no paradigma da economia descarbonizada, como bem demonstra o segmento de árvores cultivadas. Ganham as brasileiras e os brasileiros, beneficia-se o planeta.

* Camilla Marangon é gestora ambiental e gerente de Sustentabilidade e Assuntos Florestais da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores); Paulo Hartung é economista, presidente da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores).