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Embalagens de papel

Por Paulo Hartung (*)

A Covid-19 acelerou processos e antecipou alguns futuros. Neste período, a agenda ambiental ganhou relevância na discussão entre nações. A pandemia, no entanto, ainda não acabou e tem sido muito sofrida, ceifando vidas. A vacinação é urgente para cuidar dos brasileiros. Também é o principal modo para que possamos encaminhar o fim desta dura travessia e iniciarmos uma preparação do País para o pós-crise.

É preciso ter energia para uma retomada e não há outro modo de se pensar em um recomeço se não com um rumo sustentável. A sociedade, em especial os jovens, anseia por oportunidades de longo prazo e isso passa por uma economia mais moderna, pautada pela baixa emissão de CO2 e o respeito com a natureza.

É chegado o momento de retribuir toda a generosidade do meio ambiente traduzida em forma de recursos naturais. Implementar um modelo de negócios mais verde exige uma ruptura. Não é possível trilhar um caminho sustentado pela inovação, tecnologia e cuidado com a natureza utilizando os velhos hábitos. É um novo momento. E o setor de árvores cultivadas está pronto para dar sua contribuição nesta rota.

Uma agroindústria que planta 1 milhão de árvores para fins industriais todos os dias. Cultiva, colhe e replanta, comumente em áreas antes degradadas pela ação humana. Além dos 9 milhões de hectares destinados para produção, conserva outros 5,9 milhões de hectares de áreas nativas. Manejo sustentável e diálogo aberto com comunidades vizinhas atestados pelos principais selos de certificação internacional, como FSC (Forest Stewardship Council) e o PEFC/Cerflor.

Mais do que nunca os bioprodutos se mostram essenciais. Em frente ao isolamento social, muitos brasileiros encontraram novas formas de adquirir remédios, comida e outros serviços essenciais. O levantamento Consumer Insights da Kantar aponta que o delivery de refeições vem ganhando cada vez mais espaço, colocando o Brasil ao lado dos mercados asiáticos quanto à popularidade. Esse serviço tem mais de 80% de penetração nas zonas urbanas. O e-commerce também avançou e, segundo a Ebit|Nielsen, cresceu 41% em 2020.

Com extrema importância, o setor de árvores cultivadas é um dos faróis que ilumina o caminho da bioeconomia no país a partir de produtos que estão na rotina de todos, como as versáteis embalagens de papel que podem proteger delicados presentes ou até mesmo dar a segurança no transporte de robustas peças automotivas. Este é um setor pronto para as demandas do agora e daquelas que estão por vir.

Em 2020, a produção de celulose alcançou seu segundo maior volume histórico, totalizando 21 milhões de toneladas produzidas. Papelcartão, utilizado em embalagens de delivery, especialmente, chegou a 798 mil toneladas produzidas, um avanço anual de 4,9% em relação a 2019. Papelão ondulado, voltado para o e-commerce também avançou. Os números das companhias se mostram um bom termômetro. No ano passado, a Irani Papel e Embalagem cresceu 9,9% em volume de produção de embalagens de papelão na comparação anual.

Mas o olhar para o futuro impulsiona a pesquisa e o desenvolvimento desta indústria. A Klabin, por exemplo, está estudando a celulose microfibrilada (MFC) para tornar as embalagens de papel mais resistentes a líquidos e gorduras. Na prática isso quer dizer que será possível substituir as camadas de plástico ou alumínio por barreiras celulósicas, que possuem a mesma eficácia, em caixas de leite, suco ou outras substâncias. As consequências são o aumento de reciclabilidade e biodegradação, além de evitar a utilização de matéria-prima de origem fóssil.

Esta aliança entre tecnologia e sustentabilidade não para por aí. O Brasil é um dos maiores recicladores de papel do mundo, com a taxa de reciclagem em cerca de 70%. Mas a Papirus deu um passo além. Implantou um sistema com tecnologia blockchain, que reconhece de onde vêm os materiais recebidos das cooperativas e de outras fontes. Com isto, de modo similar ao mercado de carbono, a companhia pode negociar créditos de reciclagem, o que acaba por fortalecer a cadeia e incentivar os cooperados.

Todos estes esforços demonstram que este é um setor que navega dentro do mais moderno conceito de bioeconomia há anos. Se a retomada será verde, esta agroindústria pode ser uma das conexões do hoje com um amanhã mais sustentável.

(*) Economista, presidente-executivo da Ibá, ex-governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010/2015-2018)