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Debate sobre o meio ambiente tem que ser levado a sério, escreve Paulo Hartung

As mudanças climáticas não estão mais somente batendo em nossas portas, mas já entraram e estão revirando tudo. Em relatório recente divulgado pela ONU, um milhão de espécies de animais e plantas estão em risco de extinção e, além da mudança no clima, estão entre as causas o desmatamento, poluição em mares e rios, caça clandestina e exploração ilegal de madeira. Para piorar, a perspectiva é que a perda de biodiversidade se agrave até 2050.

O mundo está de olho no tema, está dialogando sobre o assunto e está estabelecendo metas para que cada país possa contribuir para um planeta sustentável e saudável para as futuras gerações. O Brasil não pode se fechar para discussões, muito menos correr o risco de perder a credibilidade e o respeito que adquiriu por um trabalho sério e cuidadoso com o meio ambiente durante décadas.

Precisamos de políticas públicas, incentivos e engajamento do setor privado. Se todos os atores sociais não participarem ativamente de um debate sério e profundo sobre as mudanças climáticas, não sairemos do lugar. Cito como exemplo a cidade de Copenhague, na Dinamarca, que pretende zerar emissões de gases de efeito estufa até 2025. É bem verdade que trata-se de uma região pequena e rica, mas um ponto primordial para que o local chegasse a esta maturidade foi a consciência e empenho da população, como afirmou o prefeito da capital dinamarquesa, Frank Jensen.

Aqui no Brasil temos referências de que é possível produzir, gerar riqueza e, aliado a tudo isto, ser responsável com a natureza. O setor de florestas plantadas para fins industriais tem sido fundamental para que o país avance no cumprimento de suas metas em compromissos internacionais, como no Acordo de Paris.

Esta indústria de base florestal é responsável pela produção de itens como painéis de madeira, pisos laminados, carvão vegetal, celulose, papel, entre outros produtos que são sustentáveis desde sua origem. Atualmente, o setor possui uma área de 7,8 milhões de hectares de árvores cultivadas para fins comerciais que, em sua maioria, ocupou locais antes degradados pela ação humana e estocam 1,7 bilhão de toneladas de CO2.

Somando os segmentos que fazem parte desta cadeia, são mais de 5.000 produtos e subprodutos fabricados que armazenam carbono, mitigando a liberação de Gases de Efeito Estufa (GEE) para a atmosfera, e são fundamentais para o dia a dia de todos.

Economicamente, o setor florestal tem se destacado, sendo responsável por 6,1% do PIB Industrial e exportando US$10,7 bilhões no ano de 2018. Estão previstos investimentos na ordem de R$22,2 bilhões até 2022 em fábricas, florestas e inovação. Exemplo concreto disto são os aportes recentemente anunciados por Bracell (R$7 bilhões), Duratex (R$3,5 bilhões) e Klabin (R$9,1 bilhões).

Socialmente é um setor que exerce um papel muito importante em todo o Brasil. São mais de mil municípios sob influência da indústria, 3,7 milhões de empregos diretos e indiretos gerados, além de 27 mil pequenos produtores beneficiados por programas de fomento.

Também é válido mencionar que esta é a indústria que mais conserva no Brasil. São 5,6 milhões de hectares de vegetação natural conservada, o que resulta em 2,5 bilhões de CO2 estocados. Consequência disto é a vida que pode se observar nestes ambientes: mesmo ocupando menos de 1% do território nacional já foram avistados em áreas das empresas de base florestal 38% de mamíferos e 41% de aves ameaçados de extinção no Brasil.

Este é um case que demonstra ser possível haver sinergia entre um trabalho de alta produtividade, economicamente forte e que respeita a natureza. Podemos e devemos tornar este um modelo de negócio, pautado pela sustentabilidade e cuidado com o futuro. Ambientalmente o Brasil tem se destacado, mas é necessário ir além e liderar este debate. Isto só será possível quando governo, setor privado e sociedade caminharem juntos, olhando para frente e atuando em prol do Brasil, sem partidarismo ou visão ideológica envolvidos.

Por Paulo Hartung, economista, presidente-executivo Ibá, ex-governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010/2015-2018)

Este artigo foi publicado Portal Poder 360