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Artigo: Reciclagem no DNA

*Por Pedro Vilas Boas

Se você der uma busca no Google com o texto invenção do papel, vai ver que foi inventado na China no ano de 105 depois de Cristo, por T’sai Lun que fez uma mistura umedecida de casca de amoreiras, cânhamo e “restos de roupas”, ou seja, o papel é, provavelmente, o único produto de grande consumo, que nasceu da reciclagem.

Em outras palavras a reciclagem está no DNA do papel

O crescente consumo do produto inviabilizou o uso de restos de roupas obrigando seus fabricantes procurarem outras fontes de fibras e, onde há mais fibras que na madeira? Assim, a opção natural foi a utilização de árvores que, imediatamente começaram a ser cultivadas, pois, não fosse isso, não existiriam mais florestas no mundo.

Mas, o DNA da reciclagem está preservado e, aproximadamente, metade da produção mundial de papel tem origem na reciclagem, não mais na reciclagem de trapos, mas, na reciclagem de si mesmo, ou seja, usamos aparas de papel para fazer papel novo.

No Brasil a história se repetiu e a nossa indústria papeleira também teve origem na reciclagem, pois, no início do século passado, éramos importadores de papel e alguns empreendedores logo viram o potencial de reciclar estes papéis, ou das aparas originadas destes papéis, e deram início a pequenas fábricas principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro e isso em uma época em que o valor ambiental da reciclagem sequer era cogitado.

É interessante notar que algumas pessoas de menor poder aquisitivo, mas, de igual espírito empreendedor, antevendo a importância da matéria-prima, começaram estruturar sistemas de coleta que viabilizariam o fornecimento de material na quantidade e com a característica técnica demandada pela nascente indústria nacional de papel, surgindo assim, a figura do aparista.

Hoje disputamos a posição de 10º maior produtor mundial com Coreia do Sul, Indonésia, Finlândia e Canadá o que significa que, em 2019, produzimos 10,5 milhões de toneladas de todos os tipos de papel, incluindo os não reciclados e os que, por possuírem características específicas, não tem condição de serem reciclados, sendo obrigatoriamente descartados após seu consumo.

Os principais tipos de papel recicláveis são os papéis de impressão, de embalagem e o papelcartão que, em 2019 apresentaram um consumo aparente (produção+importação-exportação) de 7,4 milhões de toneladas e destas conseguimos recuperar 4,9 milhões com uma taxa de recuperação de 66,9%.

Este percentual de recuperação é bastante expressivo e coloca nosso país bem acima da média mundial, mas, temos uma outra característica que, poucos países têm, ou seja, tudo que recuperamos é consumido pela própria indústria na fabricação de um novo papel.

Os países campeões de reciclagem, na verdade, são campeões de coleta, pois, utilizam grande parte das aparas de papel na chamada reciclagem energética, que nada mais é do que a queima de lixo com geração de energia, ou exportam suas aparas para outros países como a China, por exemplo.

Por aqui a reciclagem energética não é bem vista ainda, mas terá que ser implementada se quisermos atingir maiores volumes de recuperação.

Com relação às exportações, nossas aparas até são bem aceitas no exterior, mas, os custos logísticos e nossos compromissos com a indústria nacional têm nos colocado fora deste mercado.

Apesar de altos índices de reciclagem, ainda temos um desafio de ampliar e buscar a melhor destinação de mais resíduos.

A ampliação das taxas de recuperação depende do envolvimento de todas as esferas, desde o consumidor que precisa dar a correta destinação para suas embalagens, quanto as prefeituras e concessionárias de resíduos urbanos precisam oferecer ampliação da cobertura desse serviço.

Uma parte começa nos lares das pessoas, com o correto descarte, separando os papéis de produtos oleosos, limpando e secando outras embalagens. Muitos produtos de papel, que poderiam ser reciclados, não são destinados para este fim e acabam nos lixões comuns. Por exemplo, aquela caixa da embalagem de bombom que tem uma origem sustentável, pode e deve ter uma destinação correta, assim como caixas de leite, caixas de pizza (com atenção para as partes engorduradas, que não podem ser misturadas ao material reciclável) e outros produtos que estão no dia a dia e tem potencial para retornar à cadeia produtiva. Vamos juntos fortalecer a economia circular e reduzir a pegada de carbono de toda a nação.

Pedro Vilas Boas - Estatístico, presidente Executivo da ANAP – Associação Nacional dos Aparistas de Papel e Owner da Anguti Estatística.